Preservação e arquivamento – Áudio Para a Eternidade!
Nem todo material tem a longa vida de um diamante. Por isso, nosso desafio é fazer com que as informações, discos, livros durem pela eternidade como forma de nossos filhos, netos e bisnetos conhecerem as conquistas do passado e continuarem a avançar a história da própria humanidade.
Preservação de arquivos digitais
Ontem, a OMiD Academia de Áudio recebeu uma das melhores pessoas para falar sobre isso: Phillip Esterhàzy, ex-aluno de Omid Bürgin na AES (Audio Engineering Society) da Suíça e pioneiro das Ciências de Preservação e Arquivos Digitais. O tema é de complexidade e importância tão ampla que faz com que os profissionais do Áudio repensem seus trabalhos e admitam com seriedade a importância de suas atividades para o patrimônio humano.
O especialista, graduado na Diplomatic Academy of London e na International School Of Geneva, trabalhou no 2° Centro das Nações Unidas, momento de sua carreira em que percebeu a importância de recuperar documentos analógicos relevantes da Organização, digitalizando-os em arquivos que pudessem fornecer informações precisas e tornassem as buscas definitivamente mais funcionais.
Início da Tecnologia
Para entender o assunto, Phillip explica que é preciso compreender o início da tecnologia. “Para usar um disco rígido para arquivar documentos em 2001, você pagava o equivalente a 4000 reais. Devido ao (alto) preço desta tecnologia, muitos questionavam por qual motivo eu insistia ser fundamental o arquivo de notícias e todos os documentos da ONU. Em 2003 a tecnologia mudou e o disco rígido ficou bem mais barato. Isso abriu a percepção das grandes organizações mundiais no que diz respeito à importância de meu projeto. Hoje, um disco rígido ou material similar pode ser encontrado a 200 reais”, disse Phillip, que ministrou sua palestra em português e manifestou apreço pelo Rio de Janeiro, cidade de onde acabara de chegar.
História dos registros sonoros
A apresentação de Phillip fez uma viagem pela história dos registros sonoros, começando pelo Fonógrafo de Cilindro, invenção de 1877 de Thomas Edison, usada no Brasil por Mário de Andrade no começo do século XIX para documentar os sons de tribos indígenas do Brasil. Este equipamento de engenharia muito simples é encontrado apenas em museus ou nas mãos de fanáticos do mundo do Áudio, como Omid Bürgin (que curiosamente tinha 3 amostras na Academia e permitiu que os ouvintes pudessem analisá-los).
“O fonógrafo era constituído por um cilindro de folha de estanho que girava em torno do seu eixo. Este cilindro era acionado manualmente por uma manivela de progressão axial por sistema de parafuso. Tinha uma duração limitada de 3 a 4 utilizações, além do mau som e curta duração das gravações, cerca de um minuto”, explicou Omid.
Os cilindros foram melhorando e abriram concorrência com os discos na virada do século XIX para o século XX, acabando por serem derrotados em 1905, quando os irmãos Pathé adotaram o disco. Nestes primeiros tempos as gravações eram muito demoradas, pois cada cilindro ou disco era gravado individualmente. Ou seja, para fazer dez discos o artista precisava tocar novamente dez vezes.
Fitas Cassette e Compact Discs
Phillip expressou a importância de digitalizar arquivos ainda em fitas K7, lembrando que fitas com mais de 15 anos vão produzindo ruídos, quando não perdem completamente sua funcionalidade. Ele ratificou que “esta preocupação é essencial, já que aparelhos que reproduzem esta mídia tendem a se extinguir no mercado, sem haver meio para a reprodução de áudio”.
O passeio pela evolução das mídias chegou ao compact disc (CD), introduzido em 1982 e responsável por uma série de novos formatos surgidos posteriormente. “Esta data marca por definitivo a Revolução Digital e o fim do uso das mídias analógicas em países com grandes economias. Em 2005 as empresas já não mais produziam fitas analógicas”, exemplificou.
Registro histórico
O especialista ratificou a necessidade de o arquivista conhecer bem cada tipo de mídia com que irá trabalhar. “Para a preservação de discos é preciso escolher a ferramenta certa para a limpeza, além de manter a velocidade de reprodução correta. Para a preservação de fitas é preciso saber manipular as emendas e cuidar dos danos e deformações… (que se acumularam) com os anos”.
Para gravações antigas, ele pede atenção para que se mantenha a originalidade do arquivo antes que o mesmo passe por restauro e modificações corretivas. “Quando você digitaliza um arquivo antigo no estado em que o encontra, ali está também um registro de sua época, do momento histórico pela qual passava sua gravação. É importante para a história fazer este registro digital em situação “crua” a fim de manter a originalidade de seu acervo. Depois disto garantido você pode restaurar e melhorar seu material, para então digitalizar (processar) seu arquivo e poder ter também esta nova versão, agora em melhores condições…”.
Segundo Phillip, a condição climática é fator decisivo para o sucesso de um arquivista. “Se você sabe os locais adequados com as temperaturas condizentes para guardar e ajudar a prolongar a preservação de cada tipo de mídia, você terá menos trabalho com atualizações futuras de um mesmo acervo. As temperaturas para preservação variam entre 23° e -10° dependendo da mídia com que o arquivista vai trabalhar”.
Bom arquivamento passa pelos Metadados
Na visão do especialista, um bom arquivista digital deve dominar bem a parte mais burocrática do trabalho: os Metadados. “Os Metadados são dados sobre dados, descritivos, administrativos, técnicos, configurações de hardware, compressão de dados, todos muito importantes para que as buscas e o entendimento sobre cada arquivo torne-se prático e funcional”, complementou. Para isso, ele afirma ser fundamental também o domínio do padrão internacional dos códigos de gravação, determinados por EUA e Japão.
“Saber identificar os momentos e pensar nas tecnologias que poderão vir deve ser característica do arquivista. Em seu trabalho ele deve pensar sempre que as tecnologias serão reformuladas, isso evita gastos desnecessários com muitas digitalizações dos mesmos arquivos devido à chegada de novas tecnologias possivelmente não adaptáveis”, concluiu.